Um estudo realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) mostra que a situação das brasileiras grávidas merece atenção especial. Os casos de violência física, psicológica e sexual contra gestantes não são raros: 18,3% das mulheres entrevistadas admitiram ser vítimas de violência. Os agressores não estão nas ruas e, sim, dentro de casa. São pessoas da família: maridos, pais, irmãos.
As consequências são negativas para as mães, que podem desenvolver distúrbios alimentares, ansiedade e depressão por conta das agressões, e para os filhos. As chances de que eles nasçam com baixo peso (menos de 2,5 kg) dobram. Até o primeiro ano de vida, o peso inadequado é uma preocupação dos médicos, porque riscos à saúde do bebê. Das 652 mulheres entrevistadas, 57 tiveram bebês com peso abaixo do esperado.
Maria Angélica Nunes, coordenadora da pesquisa e professora da Pós-Graduação em Epidemiologia da UFRGS, conta que o estudo foi feito nos postos de saúde de uma região pobre de Porto Alegre. A maioria recebia salários de um a três salários mínimos, não trabalhava ou estudava e tinha gestações que variavam de 16 a 32 semanas. As mulheres foram acompanhadas durante o pré-natal e após o nascimento dos filhos.
O estudo foi publicado em fevereiro no European Journal of Public Health. Para a pesquisadora, os resultados demonstram que os profissionais de saúde precisam estar mais atentos às grávidas. “Há muita preocupação com o bebê e pouca com a mulher. Não há conversas sobre o estado emocional das gestantes, não se pergunta se elas sofrem violência. É preciso cuidá-las como um todo”, afirma Maria Angélica.
Os dados colhidos pela equipe da UFRGS demonstram que, das 652 participantes da pesquisa, 15% afirmaram sofrer violência psicológica, 6% física e 3% sexual. “Acho que a violência psicológica é ainda mais grave do que a física, porque dura muito tempo, mata a autoestima da mulher e leva a quadros sérios de depressão”, pondera. Segundo ela, 27,8% das participantes do estudo apresentaram quadro depressivo durante a gravidez.
Apoio psicológico
A preocupação com o estado emocional das grávidas levou um grupo de pesquisadores da Universidade Católica de Brasília (UCB) a desenvolver o projeto Pré-natal Psicológico. Desde 2006, grávidas recebem na universidade apoio paralelo ao realizado nos hospitais e postos de saúde. A proposta pretende prevenir transtornos emocionais como a depressão pós-parto, problemas conjugais e com o próprio bebê.
“Infelizmente, o pré-natal tradicional focaliza apenas o aspecto biológico da gravidez e não abre espaço para os aspectos emocionais que envolvem esse período”, comenta Alessandra Arrais, coordenadora do projeto da Católica. Durante o doutorado, a psicóloga estudou as causas da depressão pós-parto e percebeu que o apoio psicológico poderia mudar a realidade de muitas mulheres.
Para Alessandra, é preciso destruir mitos sobre a gestação, como a Idea de que a maternidade só traz felicidades. Quando a mãe sente dificuldade e não demonstra só alegria com o momento, ela sente culpa e pode se deprimir. “Socialmente, esse é um momento em que não pode haver sentimento negativo. As mães têm a idéia de que os instintos vão dar conta de todas as dificuldades, mas a realidade não é assim”, afirma.
Alessandra conta que a cada dez gestantes brasileiras, duas desenvolvem depressão pós-parto. Um índice considerado extremamente alto. “Há riscos sérios. Não é que a mãe vá matar o bebê. Isso é psicose, não depressão. Mas a apatia da mãe, que não dá conta de cuidar dela própria, pode prejudicar o desenvolvimento do bebê”, afirma. “A gravidez é um processo natural e biológico. Ser mãe não. É construção e aprendizado”, diz.
Os encontros na Católica são realizados em grupo. Pais e até avós são convidados a participar de algumas sessões. A proposta é melhorar também o contexto em que a grávida vive. O projeto identificou que metade das 50 mães que participaram do grupo durante a gestação tinha algum fator de risco para desenvolver depressão pós-parto – quadro que foi evitado pelos psicólogos.
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