FIM DA VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES

FIM DA VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES
WJDW

domingo, 14 de março de 2010

VIOLÊNCIA CONTRA GESTANTES

Um estudo realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) mostra que a situação das brasileiras grávidas merece atenção especial. Os casos de violência física, psicológica e sexual contra gestantes não são raros: 18,3% das mulheres entrevistadas admitiram ser vítimas de violência. Os agressores não estão nas ruas e, sim, dentro de casa. São pessoas da família: maridos, pais, irmãos.

As consequências são negativas para as mães, que podem desenvolver distúrbios alimentares, ansiedade e depressão por conta das agressões, e para os filhos. As chances de que eles nasçam com baixo peso (menos de 2,5 kg) dobram. Até o primeiro ano de vida, o peso inadequado é uma preocupação dos médicos, porque riscos à saúde do bebê. Das 652 mulheres entrevistadas, 57 tiveram bebês com peso abaixo do esperado.

Maria Angélica Nunes, coordenadora da pesquisa e professora da Pós-Graduação em Epidemiologia da UFRGS, conta que o estudo foi feito nos postos de saúde de uma região pobre de Porto Alegre. A maioria recebia salários de um a três salários mínimos, não trabalhava ou estudava e tinha gestações que variavam de 16 a 32 semanas. As mulheres foram acompanhadas durante o pré-natal e após o nascimento dos filhos.

O estudo foi publicado em fevereiro no European Journal of Public Health. Para a pesquisadora, os resultados demonstram que os profissionais de saúde precisam estar mais atentos às grávidas. “Há muita preocupação com o bebê e pouca com a mulher. Não há conversas sobre o estado emocional das gestantes, não se pergunta se elas sofrem violência. É preciso cuidá-las como um todo”, afirma Maria Angélica.

Os dados colhidos pela equipe da UFRGS demonstram que, das 652 participantes da pesquisa, 15% afirmaram sofrer violência psicológica, 6% física e 3% sexual. “Acho que a violência psicológica é ainda mais grave do que a física, porque dura muito tempo, mata a autoestima da mulher e leva a quadros sérios de depressão”, pondera. Segundo ela, 27,8% das participantes do estudo apresentaram quadro depressivo durante a gravidez.

Apoio psicológico

A preocupação com o estado emocional das grávidas levou um grupo de pesquisadores da Universidade Católica de Brasília (UCB) a desenvolver o projeto Pré-natal Psicológico. Desde 2006, grávidas recebem na universidade apoio paralelo ao realizado nos hospitais e postos de saúde. A proposta pretende prevenir transtornos emocionais como a depressão pós-parto, problemas conjugais e com o próprio bebê.

“Infelizmente, o pré-natal tradicional focaliza apenas o aspecto biológico da gravidez e não abre espaço para os aspectos emocionais que envolvem esse período”, comenta Alessandra Arrais, coordenadora do projeto da Católica. Durante o doutorado, a psicóloga estudou as causas da depressão pós-parto e percebeu que o apoio psicológico poderia mudar a realidade de muitas mulheres.

Para Alessandra, é preciso destruir mitos sobre a gestação, como a Idea de que a maternidade só traz felicidades. Quando a mãe sente dificuldade e não demonstra só alegria com o momento, ela sente culpa e pode se deprimir. “Socialmente, esse é um momento em que não pode haver sentimento negativo. As mães têm a idéia de que os instintos vão dar conta de todas as dificuldades, mas a realidade não é assim”, afirma.

Alessandra conta que a cada dez gestantes brasileiras, duas desenvolvem depressão pós-parto. Um índice considerado extremamente alto. “Há riscos sérios. Não é que a mãe vá matar o bebê. Isso é psicose, não depressão. Mas a apatia da mãe, que não dá conta de cuidar dela própria, pode prejudicar o desenvolvimento do bebê”, afirma. “A gravidez é um processo natural e biológico. Ser mãe não. É construção e aprendizado”, diz.

Os encontros na Católica são realizados em grupo. Pais e até avós são convidados a participar de algumas sessões. A proposta é melhorar também o contexto em que a grávida vive. O projeto identificou que metade das 50 mães que participaram do grupo durante a gestação tinha algum fator de risco para desenvolver depressão pós-parto – quadro que foi evitado pelos psicólogos.

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