FIM DA VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES

FIM DA VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES
WJDW

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

WANGARI MAATHAI-MINHA HOMENAGEM- "Wangari, brava filha do Quênia, você nunca mais estará sozinha"



Wangari Maathai é bióloga, mãe de três filhos e vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2004, Wangari Maathai foi presa e ameaçada de morte por lutar pela democracia no Quênia. Nas primeiras eleições livres de seu país, foi eleita para o Parlamento e tornou-se ministra assistente do Meio Ambiente. Ela plantou 30 milhões de árvores.





SUA AUTOBIOGRAFIA- "INABALÁVEL - MEMÓRIAS"- Vale conferir, aguns trechos:

Sempre encarei qualquer fracasso como um desafio que me impulsiona a seguir em frente. Embora o meu casamento houvesse terminado, a minha possibilidade de concorrer ao Parlamento tivesse sido eliminada e eu tivesse perdido o meu trabalho e a minha casa, eu ainda era a diretora-geral do Conselho Nacional das Mulheres do Quênia - NCWK (sigla, em inglês, da instituição) e continuava a desenvolver o Movimento Cinturão Verde.

Sabia que nunca mais conseguiria um cargo na Universidade de Nairóbi, que, na época, era a única do país. Ela era controlada pelo governo e eu tinha entrado em atrito com a ordem instituída. Por sorte, nesse mesmo ano surgiu uma chance que mudaria o rumo de minha vida e o futuro do Movimento Cinturão Verde.

Uma tarde, em 1982, eu estava no escritório do NCWK tratando das minhas tarefas habituais quando um homem branco e alto entrou. Ele me disse que se chamava Wilhelm Elsrud e era diretor executivo da Sociedade Florestal da Noruega. Conversamos sobre as atividades do Movimento Cinturão Verde e lhe mostrei vários viveiros de árvores.

O resto, como dizem, é história. Acabei não procurando outro emprego, pois fortalecer e expandir o Movimento se tornou o meu trabalho e a minha paixão. A primeira verba substancial veio do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher: 122.700 dólares. Nunca na vida tinha visto tanto dinheiro!

PLANTIO DE IDÉIAS

Graças a esses recursos, a visão que tive, no início dos anos 1970, se transformou, passando de algumas conversas e uns poucos viveiros de árvores ao plantio de literalmente milhões de mudas e à mobilização de milhares de mulheres. Para restaurar terrenos degradados, tínhamos que cuidar das mudas. Disse então às mulheres:

- Vocês precisam verificar se as pessoas a quem deram suas mudas realmente as plantaram e também se essas mudas sobreviveram por pelo menos seis meses. Só então receberão sua compensação financeira.

É assim que o Movimento Cinturão Verde funciona até hoje. À medida que ele se desenvolvia, fui me convencendo de que precisávamos identificar as raízes do depauperamento. Tínhamos que entender por que havia desnutrição, escassez de água potável, perda de solo arável e chuvas irregulares.

Por que estávamos atentando contra o nosso próprio futuro? Aos poucos, o Movimento Cinturão Verde foi se transformando: de um programa de plantio de árvores passou a ser também um programa de plantio de idéias.

PRISÃO E SOLIDARIEDADE

Em 10 de janeiro de 1992, muitos de nós nos reunimos em Nairóbi para traçar uma estratégia que nos permitisse levar adiante o movimento pró-democracia. Durante esse encontro uma informação me deixou enregelada: Acabamos de saber, de fonte segura, que Moi (ex-presidente do Quênia) quer entregar o poder ao exército - disse a pessoa que telefonou e citou o meu nome, entre outros tantos, como integrante de uma lista de pessoas a serem assassinadas. Decidi me entrincheirar em casa. A polícia não demorou a chegar, deixando quatro homens armados para vigiar a casa durante a noite toda.

No dia seguinte, a notícia de que eu estava cercada se espalhou. Os amigos e a imprensa começaram a se juntar na calçada. De dentro de casa, falei com o máximo de jornalistas que consegui, expliquei por que não queríamos que o poder passasse às mãos do exército.

Falei da fraude nas eleições de 1988 e de como o presidente estava assustado com a perspectiva de novas eleições, pois sabia que seria derrotado logo. Ouvi botas arrombando as portas. Mais uma vez, estava atrás das grades. Passei um dia e uma noite tentando dormir no chão em meio a água e sujeira. À diferença da primeira vez que fui presa, não tinha agora cobertor e estava sozinha na cela.

Também tinha 52 anos, artrite nos dois joelhos e sofria de dores nas costas. Chorando de dor e enfraquecida pela fome, tive de ser carregada até o tribunal. As pessoas ficaram chocadas ao ver que eu sequer conseguia ficar de pé para a leitura das acusações.

Do tribunal, fui carregada até a ambulância que me levaria ao Hospital Nairóbi então, vi uma faixa do grupo Mães em Ação, que lutava pelos direitos da mulher. Essa visão acalentou meu coração e me ajudou a perceber que, independentemente do que pudesse me acontecer, haveria gente preocupada, querendo me ver bem, gente que compreendia o que significava ser uma mulher que lutava pelo futuro de seu país. "Wangari, brava filha do Quênia, você nunca mais estará sozinha" - estava escrito na faixa.

Esse apoio maravilhoso veio de várias frentes. Oito senadores, entre os quais Al Gore e Edward M. Kennedy, mandaram um telegrama pedindo ao governo que fornecesse provas das acusações feitas a nós.

Os senadores Kennedy, Gore e o saudoso Paul Wellstone se manifestaram ainda com uma carta alertando o presidente para o fato de que prender figuras que lutavam pela democracia poderia deteriorar ainda mais as relações entre o Quênia e os Estados Unidos. O governo deve ter dado ouvidos a alguém, porque, em novembro de 1992, o Estado retirou as acusações.

MÚSICA E DEMOCRACIA

Entre 1970 e 2002, os países africanos obtiveram cerca de 540 bilhões de dólares em empréstimos e pagaram 550 bilhões. Entretanto, em função dos juros dessas dívidas, no fim de 2002, os países devedores ainda deviam aproximadamente 300 bilhões a seus credores.

Bons governos e espaços democráticos são essenciais para o desenvolvimento da África. Mas nem mesmo juntos eles têm condições de superar o peso esmagador dessas dívidas. Elas precisam ser abolidas.

Esforços de músicos como Bono e Bob Geldof, bem como de outras celebridades, deram à campanha pelo cancelamento da dívida dos países pobres um novo alento e atraíram mais adeptos para esse movimento. No início do novo século, muitos de nós, que vínhamos trabalhando há anos para ampliar o espaço democrático e proteger o meio ambiente, estávamos mais esperançoso. As eleições seriam em 2002, e havia fortes indícios de que, finalmente, o presidente Moi deixaria o poder. Quando foram abertas as urnas da primeira eleição livre e limpa do Quênia, fiquei estarrecida e gratificada ao constatar que eu tinha sido eleita para o Parlamento com 98% dos votos válidos.

Foi uma época maravilhosa para o Quênia. Depois de 24 anos de lutas, de prisões, espancamentos e insultos, mas também de determinação, perseverança e esperança, tínhamos enfim nos unido e, naquele dia de dezembro, podíamos proclamar com o maior orgulho: "Nós conseguimos mudar o Quênia. Trouxemos de volta a democracia!" E fizemos isso sem derramamento de sangue.

Poucas semanas depois, em janeiro de 2003, fui nomeada ministra assistente do Ministério do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais.O que aprendi ao longo dos anos é que devemos ser persistentes e comprometidos. Às vezes, quando estamos plantando árvores, alguém me diz: Não quero plantar essa árvore porque ela não cresce muito rápido". Então, tenho que lembrar a essas pessoas que as árvores que estão abatendo hoje não foram plantadas por elas mesmas, mas por aqueles que nos antecederam. Portanto, elas devem plantar árvores que vão beneficiar as comunidades no futuro.

UM DIA PERFEITO

No dia 8 de outubro de 2004, pela manhã, eu estava indo de Nairóbi a Tetu, meu distrito parlamentar, para uma reunião. De repente, meu celular tocou. Era Ole Danbolt Mjos, presidente do Comitê Norueguês do Prêmio Nobel. Pude ouvir claramente a sua voz perguntando gentilmente:É Wangari Maathai?- Sou eu mesma - respondi ajeitando o telefone no ouvido. Ele me deu a notícia e fiquei sem fala. Acabo de saber que ganhei o Prêmio Nobel da Paz - anunciei, sorrindo, para mim mesma e para os que estavam comigo ali no carro. Pela felicidade que estava estampada em meu semblante, todos sabiam que não era brincadeira.

Ao mesmo tempo, porém, as lágrimas me escorriam pelo rosto quando me virei para fitá-los.Minha mente repassou todos os anos difíceis. O que eu não sabia é que havia tanta gente me ouvindo e que esse momento chegaria.O carro rumava para o Nyeri's Outspan Hotel, onde geralmente fazíamos uma parada. A notícia se espalhou tão rápido que já havia alguns jornalistas no hotel.A administração, atendendo a pedidos, providenciou uma muda e uma pá para que eu pudesse comemorar bem a meu modo: plantando uma árvore.

Fitei então o monte Quênia, que ao longo de toda a minha vida me serviu de fonte de inspiração e pensei que era absolutamente perfeito estar naquele lugar, naquela hora, e poder comemorar a notícia histórica diante daquela montanha.

*Inabalável - memórias é da editora nova fronteira, tradução de Janaína Senna

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