FIM DA VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES

FIM DA VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES
WJDW

domingo, 26 de dezembro de 2010

MULHERES ESTUPRADAS DEMORAM PARA BUSCAR ASSISTÊNCIA MÉDICA


O que as mulheres temem ao contar
sua história a médicos?

DEBORA DINIZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

As vítimas de estupro são mulheres comuns: jovens,
católicas, com baixa escolaridade e inserção informal no
mundo do trabalho. A surpresa não está no perfil, mas na
informação de que só uma em cada dez mulheres procurou
o serviço de saúde imediatamente após a violência.
As razões desse silêncio são desconhecidas pela pesquisa,
mas denunciam desafios importantes à saúde pública
brasileira. O que as mulheres temem ao contar suas histórias
de estupro a médicos, enfermeiras ou assistentes sociais?
A primeira pista para essa pergunta está na combinação de
duas informações aparentemente discordantes: a maioria das
mulheres submeteu-se ao exame de corpo de delito e
registrou o boletim de ocorrência policial, mas muitas
tiveram o pedido de aborto negado.
A principal razão foi o avanço da idade gestacional, pois as
mulheres demoram para buscar os hospitais. E, dentre as
poucas que buscaram socorro imediato, nem todas
receberam a contracepção de emergência -gratuita e
encontrada em qualquer centro de saúde. Em tese, a mulher
não precisa expor sua história, basta solicitar a medicação
na farmácia. Mas há um silêncio tão perverso em torno do
aborto que até mesmo informações básicas sobre direitos e
assistência são ignoradas pelas mulheres. A encruzilhada do
atendimento não está apenas no serviço de referência, mas
nos programas de inserção comunitária, tais como o saúde
da família, o saúde em casa ou mesmo nos agentes de
saúde.

Se esse modelo integral de assistência em saúde
funcionasse, muitas mulheres nem sequer precisariam do
aborto. Mas, curiosamente, as mulheres vítimas de violência
sexual parecem temer os profissionais de saúde, e esse é
meu maior espanto diante dos dados da pesquisa.
Elas superam a barreira do constrangimento policial e
realizam o exame de corpo de delito: um exame vexatório e
não obrigatório para o registro de estupro, mas se recusam a
ir imediatamente ao hospital. Sem ainda entender as razões,
me parece que as mulheres vítimas de violência sexual
confiam mais na polícia que nos profissionais de saúde.

DEBORA DINIZ é professora da Universidade de Brasília e pesquisadora
da Anis (Instituto de Bioética e Direitos Humanos)

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